O cartum que analisamos hoje traz uma contradição que reflete as tensões entre nosso sistema educacional tradicional e as realidades da economia digital contemporânea.
Um diálogo aparentemente trivial: um pai pergunta ao filho se ele já fez a lição de casa. Nada de novo, cena que se repete há gerações em lares ao redor do mundo todo. Mas a resposta surpreende: “O H237 fez pra mim“.
Eis que H237 não é um colega ou um tutor, mas um robô construído pelo próprio filho para fazer suas lições de casa. A ironia: estudante que supostamente não quer se esforçar para fazer os deveres escolares, mas que tem a capacidade técnica, a criatividade e a dedicação para criar algo tão complexo.
A “preguiça” de não querer resolver exercícios padronizados, frente a habilidades que são valorizadas no mercado de trabalho atual, contradição que se mostra na reação acalorada do pai, temperada de pânico moral: “Tá maluco? Você é que tem que fazer sua própria lição de casa! Como vai conseguir um emprego só jogando videogame?”.
Uma posição que revela o entendimento que tivemos da Educação em relação à Sociedade desde a emergência da Era Industrial: estude, faça o que mandam, cumpra as tarefas e você conquistará um emprego. Um modelo educacional projetado para formar mão de obra para as fábricas do século XX, que perde relevância no economia digital do século XXI, marcada pela criatividade e flexibilidade na resolução de problemas.
O quadro final completa a situação contraditória de nosso sistema educacional: “Eu já ganhei R$12 mil vendendo esses robôs pra outros alunos, relaxa“, revelando a mentalidade de empreendedorismo defendida por muitos.
E com isso nos questiona, o que é mais valioso em termos de aprendizagem hoje? Trata-se apenas do embate entre educação tradicional versus educação inovadora, ou de transformações mais profundas? Que tipo de habilidades nosso sistema educacional deveria realmente estar incentivando? Que lugar fica reservado para o conhecimento e para as formas de ensino e avaliação mais tradicionais? Em que medida a inovação educacional poderia levar esta experiência individual a todos estudantes?